quarta-feira, 30 de março de 2011

Segurança e Mergulho livre II

O mergulho livre é uma atividade apaixonante! A cada metro vencido, no meu caso, a sensação de vitória é enorme. Para mim, que pratico mergulho há algum tempo, é uma superação constante. A sensação de evoluir no esporte é maravilhosa.
Mas o mergulho em apnéia possui uma peculiariedade: é praticado em um meio que não é o nosso e sem respirar, portanto, pequenos erros cometidos tendem a ser fatais. Fica claro então a necessidade de se ter a segurança sempre em primeiro plano.
Vamos falar sobre treinos em águas abrigadas e águas abertas, pois os que são realizados em piscinas não fazem parte de nosso cotidiano!
Resfriados, gripes e sinusites são incompatíveis com mergulho! Simples assim. A equalização fica prejudicada e quando não impossibilita a descida, causa dor ou tira a concentração do mergulhador!
É importante que ao praticar mergulho livre sempre procure fazê-lo com alguém do seu nível técnico ou superior. E, claro, nunca é demais ressaltar que o mergulho deve ser feito pelo menos em dupla, assim um pode monitorar o outro.
Outra boa prática é combinar com seu parceiro antes de entrar na água o que se pretende fazer naquele mergulho, alternativas e providências a serem tomadas caso aconteça algum imprevisto. Além disso, em estando na água, sempre avisar ao colega quando se vai descer, e nunca negligenciar uma descida. É importante ficar sempre atento ao companheiro pois caso ocorra algum problema, segundos fazem a diferença.
Um cabo preso a uma bóia é essencial para facilitar os deslocamentos horizontais. Não é à toa que alguns o chamam de cabo guia. A bóia deve ter a sinalização internacional do mergulho (a bandeira vermelha com a listra branca), pois isso sinaliza à embarcações que naquele local estão ocorrendo práticas de mergulho e, em teoria, estas devem manter uma distância de segurança. Os deslocamentos horizontais deverão ser feitos próximos ao cabo, pois isso possibilitará a localização de um mergulhador caso ele “apague”.  Fica claro então que áreas com água “correndo” devem ser evitadas.
Um outra função do cabo é a de sinalizar ao mergulhador que está em cima que o apneísta que descia chegou ao fundo ou a sua profundidade máxima, pois ao fazê-lo este último deve dar um puxão no cabo para comunicar ao parceiro, que obviamente segura a corda na superfície. Quem está na superfície então desce para encontrar o mergulhador que sobe nos últimos 10 metros da subida. Ao chegar à superfície, o mergulhador que realizou o mergulho deve ser monitorado por pelo menos trinta segundos. Creio que cabe uma observação aqui: nós, quando subimos jamais soltamos todo o ar existente nos pulmões, isso acarretaria em uma perda da pressão alveolar demasiada, e no nosso entender, poderia causar um apagamento. Então soltamos metade do ar e o renovamos.
Atenção quanto ao lastreamento. Uma boa pratica é estar neutro à metade da profundidade que queremos atingir, isso facilitará na subida, e como diz Igor, um colega mergulhador, “descer não é tão importante, mas subir com certeza é!”
Sobre a recuperação na superfície: isso é importante para os colegas pescadores sub. Algumas vezes negligenciamos o intervalo que o organismo levaria para se recuperar por termos visto algum peixe ou algo do gênero. Cada um tem um “timing” de recuperação e dependendo do esforço feito no mergulho esse tempo varia. Eu, particularmente, mergulho com computador e para profundidades superiores a -22 mts faço um intervalo de superfície mínimo de 7 minutos. Para alguns pode parecer muito, mas mesmo mergulhado com um parceiro, prefiro não arriscar.
Monitorar sempre a água fria. Se está sentindo frio pode estar certo de que seu consumo de oxigênio está maior.
Uma coisa que acrescentamos por nós mesmos é treinar o que fazer em caso de emergência (como tirar um mergulhador da água) e o que podemos fazer até que o socorro chegue. Acredito que quem mergulha deveria ter um curso de socorrista pois conheço alguns casos onde acidentes ocorreram, no mar, e quem estava lá não sabia como e não tinha meios para prestar o socorro. Mas essa é minha opinião pessoal.
Agora, o mais importante: respeite seus limites! Desça um metro de cada vez. O mergulho livre é antes de tudo uma escola de paciência. Conheça os sinais que seu corpo lhe envia, leia sobre fisiologia do mergulho, procure conversar com mergulhadores mais experientes e se possível procure fazer um curso. O ideal na verdade é fazer um curso, mas na realidade é difícil conseguir um aqui no nordeste, não fosse o esforço da AIDA Brasil seria quase impossível um curso por aqui. Eu mesmo procurei alguns mergulhadores que teriam a competência e capacidade para realizar um curso mas não obtive êxito. A verdade é que poucas pessoas são profissionais do mergulho livre a grande maioria dos mergulhadores é apenas praticante amador.

terça-feira, 15 de março de 2011

SEGURANÇA NO MERGULHO LIVRE I

O mergulho livre é uma atividade esportiva desenvolvida por milhares de pessoas em todo o mundo, nas mais diversas modalidades e sem distinção de sexo ou idade. É uma atividade prazerosa e que não requer grande logística. O material utilizado é identificado como equipamento básico de mergulho, comprado sem restrição em lojas de equipamentos náuticos e shoppings de qualquer cidade, não necessitando comprovar habilitação na atividade.
A fácil aquisição de material, somado à falta de preparação adequada, resulta em um maior número de acidentes e em algumas situações, casos fatais. Não raro vemos pessoas que não sabem sequer nadar e após a compra do material, já saem mergulhando, sem um mínimo de cuidados, auto entitulando-se "mergulhadores". 

Um acidente pode ser definido resumidamente, como a soma de pequenos erros cometidos em sequência, causando danos pessoais, materiais, de forma inesperada e indesejada. Infelizmente, isso ocorre numa frequencia muito maior do que desejaríamos.
No mergulho autônomo, os números comprovam se tratar de uma atividade com nível de segurança muito elevado. No mergulho livre, esse nível pode ser alcançado, utilizando o mesmo procedimento na formação desse mergulhador.

O primeiro passo, para quem deseja praticar o mergulho livre, é procurar informações sobre grupos ou escolas, para formação adequada e maiores informações sobre a atividade do mergulho em apnéia. Essa fase tem grande importância na progressão no mundo subaquático, pois, visa esclarecer os riscos existentes na prática do mergulho em apnéia e ensinar os conhecimentos necessários para desenvolvimento seguro.
Uma conscientização por parte dos futuros mergulhadores e comerciantes da indústria do mergulho tornaria a atividade mais segura, não visando apenas à diversão e o lucro sem responsabilidade.

O blog Mergulho Livre Natal inicia suas atividades, buscando a união dos amantes do mergulho livre, criando um espaço aberto aos que possam contribuir com informações relacionadas à prática segura do mergulho livre em nossa cidade.
Em uma próxima conversa, discutiremos de forma mais específicas a segurança na prática do mergulho livre. 

Postado por: Marcos Júnior, mergulhador 3 estrelas, membro da ANDA.

domingo, 13 de março de 2011

O mergulho no litoral sul



Foto: Google Earth

Há uma peculiaridade no nosso litoral: no sul temos apenas formações rochosas pequenas sem muita elevação; predominam os pequenos afloramentos de "pedras" e os "cascalhos", que são aglomerados calcários. Não nos recordamos de nenhum afloramento importante de pedras que supere os dois metros de altura, excetuando-se os chamados parrachos (que são costões) e parceis, a uma distância média de 200 metros da costa, além talvez, da chamada Baixa do Cotovelo, próximo à praia de Cotovelo.


Com essas características já é possível imaginar quais os animais que predominam na fauna subaquática: ciobas, guarajubas, xaréus, enxadas, galos, xaréus brancos, serras, cavalas e bicudas, entre outros. Já tivemos inclusive o prazer de presenciar os tubarões martelo caçando em nossas águas!

No litoral Norte (tema de postagem futura) já existem grandes afloramentos de rocha como, por exemplo, a Risca do Zumbi que encerra além de belas formações, dois naufrágios (São Luís e Comandante Pessoa), um deles lá nos -28 metros.

No geral os pontos de mergulho do litoral sul que possuem boa visibilidade durante quase todo o ano estão à partir de 7 milhas da costa. Contudo há locais mais próximos, os quais proporcionam boa diversão quando o vento diminui.

Cabe agora uma observação: a visibilidade da água é influenciada diretamente pelos ventos. Esse ano de 2011, sob a influência do fenômeno La Niña, não proporcionou muitos  dias de água "limpa" próximo da costa. O oposto de 2010, onde tivemos vários dias de água cristalina há apenas uma ou duas milhas da costa. Aliás, em 2010 tivemos o prazer de mergulhar inúmeros dias em águas de excelente visibilidade há 50 ou 60 metros da areia praiana!

A profundidade que encontramos nos principais "cabeços" do litoral sul está entre -14 metros (como por exemplo no Leandro e na Barreirinha, próximos à praia de Pirangi) e -22 metros, como na Pedrinha da Bicuda (próximo à Tibau do sul).

É possível alugar barcos de pesca, com uma estrutura mínima, para realizar mergulhos em todo litoral sul. Há pescadores que, incentivados pelo turismo, modificaram seus barcos para melhor receber os mergulhadores e possuem uma extensa rede de pontos de mergulhos mapeados por GPS. Um pequeno empecilho é que esses barcos, chamados  botes, foram feitos para "balançar", portanto, quem enjoa no mar tem que tomar cuidado.
Não existe ainda um operadora específica para mergulho livre mas há 3 empresas que operam o mergulho autônomo! Duas delas operam no litoral sul.

Postado por: Ricardo Bormann

Equipamentos Básicos

O principal item do equipamento para praticar mergulho livre é sua saúde!  É indispensável ao mergulhador uma visita médica para um check-up de rotina. E o médico deve ser avisado sobre qual atividade física será praticada.
Para se praticar o mergulho livre precisamos de uma boa máscara, um respirador (snorkel) e nadadeiras.
A máscara deve se ajustar bem ao rosto. Um boa forma de testá-la, quanto à vedação, é colocá-la no rosto, sem as tiras, e realizar uma leve inspiração pelo nariz "segurando o ar", vira-se então o rosto para baixo, como se fosse olhar os pés. Se a máscara não cair é muito provável que se adapte bem ao seu rosto!
Como no mergulho autônomo, precisamos realizar manobras de equalização da pressaõ ao descer, portanto quanto menor espaço aéreo a máscar tiver, menos ar usaremos! Consequentemente mais ar estará reservado para trocas gasosas. Um último detalhe que devemos ter em mente em relção à máscara é o campo de visão que ela oferece! Obviamente, quanto maior, melhor!

O respirador basicamente se apresenta de duas formas, com ou sem válvula. Quem pratica caça sub, ou pesca sub, prefere o sem válvula. Um outro ponto interessante é o corte do tubo que está na superfície. Existem vários cortes e aberturas, alguns favorecem a respiração em dias de mar agitados com ondas "espumando" na superfície por exemplo, outros não. Recomendamos a utilização do mais simples possível para quem está iniciando.

Nadadeiras! Existem inúmeros modelos de nadadeiras no mercado. Para quem está iniciano uma nadadeira de palas médias talvez seja o ideal, pois tanto permite deslocamentos na horizontal quanto na vertical; já as palas grandes facilitam muito nas descidas mas já para o deslocamento na superfície não se adequam tão bem. A rigidez das palas e o material com o qual são feitas influenciam diretamente seu rendimento e também seu custo. É importante lembrar que ao experimentar as nadadeiras devemos faze-lo já com as meias de neopreme, pois com o usos delas, os pés ficam protegidos de indesejáveis bolhas!

É indispensável a utilização de uma bóia sinalizadora, de preferência com a bandeira internacional do mergulho ao se praticar a atividade em águas abrigadas ou abertas. Isso marca sua posição, evitando que embarcações se aproximem e venham a causar algum acidente (além de proporcionar ao mergulhador um ponto de "apoio" sobre a água).

Por fim antes de investir em equipamento procure as variadas operadoras de mergulho que oferecem a possibilidade de realizar um mergulho acompanhado e com o equipamento das mesmas. Se você gostar, e decidir por praticar mergulho livre, compre um equipamento de qualidade e, se possível, faça um curso de apnéia com uma equipe séria. Segurança em primeiro lugar!
E lembre-se: NUNCA MERGULHE SOZINHO! Respeite os limites de seu condicionamento físico e psicológico.

terça-feira, 8 de março de 2011

Respiração e Mergulho Livre

Um dos fatores mais relevantes no desempenho do mergulhador livre é a respiração. Uma correta técnica de respiração, além de gerar uma boa troca gasosa entre oxigênio e gás carbônico, aumenta a concentração do mergulhador, elevando sua capacidade de manter-se em apneia.
Para respirar corretamente é necessário conhecer os processos fisiológicos da respiração:
1. Composição do ar atmosférico
a. O ar que respiramos, ao nível do mar, possui a seguinte composição aproximada: 21% de oxigênio (02); 0,03% de gás carbônico (CO2); 79% de nitrogênio (N2).

2. Vias respiratórias
a. O ar entra pelo nariz ou boca, passa pela faringe, laringe, traquéia, brônquios, bronquíolos, para só então chegar aos alvéolos; onde ocorre a troca gasosa com o sangue. Basicamente sai CO2 e entra O2.

3. Oxigênio, Gás carbônico e Nitrogênio
a. O oxigênio inspirado passa para o sangue através dos alvéolos, as unidades básicas da árvore respiratória. Carreado pelas hemácias (células vermelhas do sangue), o O2 chega a todas as células, onde é utilizado para geração de energia. Um dos resíduos da utilização do oxigênio é o Gás carbônico, que em excesso pode literalmente causar uma intoxicação do organismo.
Imagem: http://www.respireeviva.com.br/

b. O Gás carbônico faz o sentido inverso do oxigênio, isso é, “sai” dos órgãos e tecidos para ir em direção aos alvéolos, onde deve ser eliminado pela expiração.
c. O Nitrogênio não tem participação direta no metabolismo corpóreo, ele apenas entra e sai do organismo. MAS ATENÇÃO, PARA OS MERGULHADORES SCUBA! O NITROGÊNIO TEM PAPEL FUNDAMENTAL NA DOENÇA DESCOMPRESSIVA.

4. Trocas gasosas na respiração
a.  Os gases, O2, CO2 e N2, saem dos alvéolos para o sangue e vice versa de acordo com um processo de difusão simples. Em outras palavras, o gás sai do local em que está mais concentrado para o local em que está menos concentrado. Exemplo: na inspiração, o ar que entra tem mais oxigênio que gás carbônico; já o sangue, por sua vez, está com uma concentração de gás carbônico maior que a de oxigênio. Isto faz com que o oxigênio do ar migre para o sangue e o gás carbônico do sangue migre para o interior do pulmão. Isto continua ocorrendo até que as concentrações no ar pulmonar e no sangue fiquem “iguais”. Com a expiração, o CO2 do ar pulmonar é eliminado, e após nova inspiração o ciclo se repete.
5. Trocas gasosas em apneia
a.  Quando em apneia o pulmão e as vias respiratórias tornam-se um reservatório de ar. Nesse estado, as trocas gasosas continuam ocorrendo enquanto não se respira. No entanto, isso só ocorre até que haja o equilíbrio das concentrações: o CO2 do sangue passa para o ar pulmonar até que a sua quantidade seja igual nos dois meios (sangue e ar pulmonar); ao atingir este equilíbrio, o CO2 começa a ser acumulado no sangue e consequentemente nos órgãos e tecidos (HIPERCAPNEMIA). O mesmo ocorre com o oxigênio: ele passa ao sangue até que sua concentração se iguale nos dois meios, gerando HIPÓXIA. A partir daí os órgãos e tecidos passam a utilizar outra fonte para produção de energia, bem menos eficiente, diga-se de passagem.

Observação: as informações contidas neste texto são simplificadas, com o objetivo de facilitar o entendimento destes processos aos leigos na fisiologia. Caso exista necessidade de um entendimento mais pormenorizado se faz necessária a leitura de literatura médica especializada.
Postado por: Ricardo Bormann